quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Visita ao Museu das Telecomunicações

O Museu das Telecomunicações, antes de mais nada, causa surpresas àqueles que nunca foram ao espaço, mas "ouvem falar" que existe um local destinado à memória dos meios de comunicação. Certamente é um dos poucos museus brasileiros dotado de tal configuração museológica. 

Desse modo, é difícil descrever a visita de forma linear e em sua completude, pois não há um percurso tão "positivado" como na maioria dos museus comuns.

Ao chegar ao espaço, recebemos um dispositivo de áudio que reconhece a localização do usuário. Nele é possível auditar explicações, relatos e demais sons relativos ao que o visitante aprecia. A partir daí, o visitante molda seu percurso, seleciona audios, sons, filmes, etc.

Na lista de assitanantes de 1929 o nome, telefone e endereço de dois históricos arquitetos mineiros: Raffaello Berti e Sylvio de Vasconcellos.


Pude perceber uma característica muito particular do museu. O resgate do passado, da maneira como é abordado pelo museu, faz o usuário, habitante do presente, se sentir um intruso nesse processo. No Museu das Telecomunicações existe apenas dois tempos: o passado e o futuro.

Abaixo, modelos telefônicos antigos, com destaque para o charmoso ericofon, também conhecido como "telefone JK", que faz um bom filme em qualquer decoração vintage.


Não é só a museologia que é ousada nesse espaço. A própria arquitetura tem seu destaque.
Abaixo, detalhe da configuração não retilínea dos espaços. Interessante uso de projeções sobre objetos e LEDs, que são objeto de estudo e pesquisa na UFMG através do LAGEAR.




Vale a pena a visita!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Disse que me disse que MASP receberá sua primeira intervenção nas fachadas

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o MASP receberá sua primeira grande intervenção nas fachadas, que durará até janeiro de 2011. Efêmera, porém histórica: trata-se da primeira intervenção nas fachadas do museu, alvo de vários artistas durante anos, privilégio de Regina Silveira.

Em função de ser tombado nas três esferas, o licenciamento de atividades que envolvam a arquitetura do edifício, de Lina Bo Bardi, é complicado. Com esforço, pela primeira vez foi liberada.

 

Adesivos de vinil recobrirão as janelas formando um céu azul e nuvens, uma alusão ao céu visto através de reflexos. O detalhes se tornam mais nítidos conforme o admirador tem distância do objeto, de maneira que é possível perceber, inclusive, uma agulha típica para o bordado que serviu de inspiração.

A relação desse tipo de intervenção se caracteriza por arte pública, assim definida pela artista: “É uma arte pública, fora dos espaços protegidos da arte, que se mete no meio da vida das pessoas...".



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sábado, 27 de novembro de 2010

Qual o limite da perspectiva?

A mera representação dos objetos arquitetônicos não é arquitetura por completo. É nesse sentido que temos um dos limites da perspectiva: a impossibilidade de promover experiências espaço-corpo-meio da mesma forma que o espaço construído. Imagem e interação espacial são mundos distintos que se tocam - não se misturam - através de uma interface visual, a exemplo do que ocorre com a TV e o telespectador. Não é incomum para nós, humanos, usarmos algum tipo de interface com um universo representativo. No jornalismo, a notícia e o leitor; na sociologia, o relato do fato social e o cientista; na geografia, o mapa e o geógrafo... Na arquitetura não poderia ser diferente.

Para exemplificar isso, tomemos como exemplo uma publicação sobre o projeto Gazipasa Arboretum, que possui uma configuração com razoável dose de ousadia. No texto, tenta-se passar quais seriam as sensações percebidas pelos usuários em função de tais configurações, em associação com as imagens representativas. Por se tratar de projeto que ainda não se fez objeto, são presságios que podem ou não ter uma acurácia, a depender do potencial crítico de quem analisou o projeto no papel, incluindo inerentes aspectos imprevisíveis e de caráter individual de cada usuário, os quais nem Deus seria capaz de determinar. Desse modo, convido a todos os leitores que antes de se dirigirem ao link, dirijam-se primeiro às imagens (também disponível no site do estúdio) e reflitam sobre o que vocês esperam de uma experiência naquele espaço e depois comparem.

Mesmo com suas limitações, a perspectiva não deixa de ser fundamental para a arquitetura. Não há notícia feita por jornalista que não saiba escrever, e na mesma linha, não há projeto sem representação. Um dos fatores de sucesso para um bom projeto é o domínio do arquiteto sobre diversas formas representativas, como o desenho técnico, artístico, computacional gráfico e sobretudo a perspectiva. Não se faz arquiteto aquele que não representa sua criação, por mais sensibilizado que seja para o processo criativo.

sábado, 30 de outubro de 2010

Operação São Vito

São Paulo caminha na contramão mesmo. Não digo isso por ter uma enorme simpatia pela Marta Suplicy e concordar com o que a ex-prefeita diz em relação aos projetos de sua gestão abandonados em decorrência da posse de José Serra na prefeitura. Digo isso em nome de algo maior, em nome de uma das maiores tendências em torno dos debates a respeito dos problemas das grandes cidades brasileiras: o uso e a revitalização de espaços degradados dos centros urbanos para a habitação de interesse social. 

Faço referências também ao meu primeiro contato com esse assunto quando, ainda não ingresso no curso de arquitetura, assisti à palestra "Requalificação do Hipercentro de Belo Horizonte: possibilidades de inserção do uso residencial", apresentada no Museu Abílio Barreto há um ano. Nessa ocasião, me empolguei ainda mais com a ideia de trocar de curso, abandonando um de gabinete e mergulhando em outro capaz de me fazer sentir de fato um agente transformador.

Pois bem.

Nos últimos tempos, a prefeitura voltou a executar as obras de demolição do São Vito, após entraves na 'justiça'. Esse projeto refuta o que a administração anterior havia proposto: requalificar e transformar o gigante condomínio degradado em unidades habitacionais.

A história do São Vito é semelhante à de muitos residenciais da década de 50. Nesse período, apostava-se em grandes complexos residenciais e comerciais mistos. Em função de uma administração ruim, o conjunto foi se degradando ao ponto de ser considerado cortiço na década de 80. Em 2003, a prefeitura entendeu que uma intervenção política seria necessária para impedir a decadência do local, que resultou em encomendar uma intervenção arquitetônica de revitalização ao arquiteto Roberto Loeb.

Os quase 700 apartamentos, do tipo "Kitchenette", seriam aglutinados em pares, de modo a resultar em 375 apartamentos com razoável conforto, além de um "upgrade" estético" e uma revitalização no entorno.

O prédio tem um considerável volume. São 27 andares que se impõem na paisagem como um grande esqueleto de concreto abandonado. 



O projeto de 2004 leva em conta aspectos de embelezamento do entorno, de maneira a minimizar o impacto negativo da construção na paisagem.
 

Outra questão lamentável é a maneira como a construção restará ao pó. Em função da proximidade do mercado municipal, uma implosão abalaria os seculares vitrais do prédio. A inteligência de Kassab surpreende: demolir 27 andares na marreta. Os custos são absurdamente onerosos, sem falar no passivo ambiental gerado.

Tudo isso pra que? Não sei. E a prefeitura também não sabe. Fala-se em uma garagem para o mercado municipal, certamente a garagem mais cara do mundo. De qualquer maneira, os pobres mais uma vez foram lançados, em plenos anos 10 do século XXI, para longe do centro urbano. E haja metrô!

Artigo do professor Nabil Bonduki
Dissertação do arquiteto Mateus Moreira Pontes

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pavilhionidades

Pavilhões anti-positivistas são agora o nosso objeto de trabalho na "oficinona". A sala, dividida em grupos, está trabalhando em torno de uma proposta para um pavilhão que refute o positivismo. A idéia é que o pavilhão seja montado no jardim externo da Escola.

Para exercitar nosso pensamento criativo em torno dessa proposta, deveríamos procurar por pavilhões afins, os quais eu apresento a seguir.

"Pabellón de Portugal"

De autoria do renomado arquiteto Álvaro Siza, o pavilhão foi construído em Lisboa para a Expo'98. Intencionalmente, a estrutura deveria permanecer sem um uso pre-determinado após o evento, conferindo ao mesmo bastante flexibilidade e versatilidade.

A grande cobertura em concreto armado é capaz de abrigar uma enorme quantidade de visitantes.



Para os interessados em mais informações, sugiro a locação do livro "Atlas de Arquitectura Actual" disponível na biblioteca da escola. Código na estante 724.91 A816a

O Pavilhão de Álvaro Siza está na página 608.

O segundo objeto é "Oficinas Inferno". Construído na sede de uma agência de publicidade sueca, num antigo edifício industrial, o ambiente foi trabalhado de maneira que as pessoas pudessem se apropriar livremente do espaço, como fumar, escutar música, conversar, telefonar, etc.




Para os interessados, esse objeto também está disponível em um livro na biblioteca bastante interessante. "Arquitectura Textil: transformar el espacio". Código na estante 746 B151a Página 62

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

disse que me disse: que arquitetos brasileiros mostram talento no WAF

Arquitetos do mundo inteiro têm projetos apresentados no World Architecture Festival, que acontecerá pela terceira vez em Barcelona, entre os dias 3 e 5 de novembro. O festival reúne os maiores talentos da arquitetura mundial e seus projetos em áreas temáticas, tais como habitação, comerciais, infra-estrutura, equipamentos, dentre outros. A premiação abarca tanto obras consumadas como projetos ainda não concretizados.


Há uma infinidade de vertentes que orientam os projetos em disputa. O que mais chama a atenção é, sem dúvidas, o desconstrutivismo. Podemos perceber essa identificação, dentre outros do festival, nos trabalhos da arquiteta iraniana Zaha Hadid e do polonês Daniel Libeskind, por exemplo.


Ao todo são sete projetos brasileiros na disputa, dentre os quais o de um professor aposentado (que 'penna') da Escola de Arquitetura da UFMG! Gustavo Penna compete na categoria residencial com um projeto de uma casa em Nova Lima.


Crítica: é inquestionável o talento dos arquitetos brasileiros nessa competição de altíssimo nível. Entretanto, é lamentável que nossa arquitetura seja muito voltada para o enclausuramento e o espaço privado. Dentre os sete projetos de brasileiros, apenas o Museu da Memória e dos Direitos Humanos (que se localiza no Chile) e o Museu da Imagem e do Som (projeto futuro) não são assim. Os demais são residenciais ou comerciais. Temos sete projetos na disputa, mas nenhum na categoria de Espaço Cívico e para Comunidade.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Link entre Villa Arpel e Residência Belvedere

Meu primeiro fractal

Duas vivências distintas se uniram nos últimos dias em uma primeira ideia para esse blog. São elas as vezes que assisti ao filme "Meu Tio", especialmente aquela nos idos anos de colegial no Palácio das Artes, a convite de Mariana Lima, e meu primeiro contato com a "Residência Belvedere", quando fui até a Fundação Torino a pé desde o BH Shopping.

Numa tarde de garoa e neblina (insisto, eu estava a pé), subindo a serra, estava reparando no contraste não muito agradável entre a paisagem natural e o ambiente construído pelo homem, até então nenhuma novidade quando estamos falando de serra do curral. O grande espanto veio quando vi uma construção que de tão monumental contrastava não só com a paisagem como com as demais casas. Fiquei alguns minutos me molhando, parado em frente ao palacete, até me dar conta de que estava atrasado.

Algum tempo depois, assisti a "Meu Tio", um filme que ilustra muito bem a obsessão pelo moderno. Equipamentos de última geração, que a princípio deveriam tornar a vida mais simples e fácil de ser vivida, acabam trazendo transtornos.

Nunca teria casado as semelhanças entre os Arpel e os Porcaro se não tivesse me sensibilizado com as primeiras aulas do curso de arquitetura, na UFMG, que começo nesse semestre. Exceto pelas dimensões, as duas residências se parecem muito em forma e conteúdo. A própria entrevista reserva alguns minutos para listar tudo que há de automático na casa, incluindo um cômodo para abrigar a central que controla todos os "cérebros da casa".

Assistam a um trecho do filme "Meu Tio" e a uma breve apresentação sobre a casa que quero colocar em comparação.