sábado, 30 de outubro de 2010

Operação São Vito

São Paulo caminha na contramão mesmo. Não digo isso por ter uma enorme simpatia pela Marta Suplicy e concordar com o que a ex-prefeita diz em relação aos projetos de sua gestão abandonados em decorrência da posse de José Serra na prefeitura. Digo isso em nome de algo maior, em nome de uma das maiores tendências em torno dos debates a respeito dos problemas das grandes cidades brasileiras: o uso e a revitalização de espaços degradados dos centros urbanos para a habitação de interesse social. 

Faço referências também ao meu primeiro contato com esse assunto quando, ainda não ingresso no curso de arquitetura, assisti à palestra "Requalificação do Hipercentro de Belo Horizonte: possibilidades de inserção do uso residencial", apresentada no Museu Abílio Barreto há um ano. Nessa ocasião, me empolguei ainda mais com a ideia de trocar de curso, abandonando um de gabinete e mergulhando em outro capaz de me fazer sentir de fato um agente transformador.

Pois bem.

Nos últimos tempos, a prefeitura voltou a executar as obras de demolição do São Vito, após entraves na 'justiça'. Esse projeto refuta o que a administração anterior havia proposto: requalificar e transformar o gigante condomínio degradado em unidades habitacionais.

A história do São Vito é semelhante à de muitos residenciais da década de 50. Nesse período, apostava-se em grandes complexos residenciais e comerciais mistos. Em função de uma administração ruim, o conjunto foi se degradando ao ponto de ser considerado cortiço na década de 80. Em 2003, a prefeitura entendeu que uma intervenção política seria necessária para impedir a decadência do local, que resultou em encomendar uma intervenção arquitetônica de revitalização ao arquiteto Roberto Loeb.

Os quase 700 apartamentos, do tipo "Kitchenette", seriam aglutinados em pares, de modo a resultar em 375 apartamentos com razoável conforto, além de um "upgrade" estético" e uma revitalização no entorno.

O prédio tem um considerável volume. São 27 andares que se impõem na paisagem como um grande esqueleto de concreto abandonado. 



O projeto de 2004 leva em conta aspectos de embelezamento do entorno, de maneira a minimizar o impacto negativo da construção na paisagem.
 

Outra questão lamentável é a maneira como a construção restará ao pó. Em função da proximidade do mercado municipal, uma implosão abalaria os seculares vitrais do prédio. A inteligência de Kassab surpreende: demolir 27 andares na marreta. Os custos são absurdamente onerosos, sem falar no passivo ambiental gerado.

Tudo isso pra que? Não sei. E a prefeitura também não sabe. Fala-se em uma garagem para o mercado municipal, certamente a garagem mais cara do mundo. De qualquer maneira, os pobres mais uma vez foram lançados, em plenos anos 10 do século XXI, para longe do centro urbano. E haja metrô!

Artigo do professor Nabil Bonduki
Dissertação do arquiteto Mateus Moreira Pontes

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